terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Corpo novo, outra postura

Jucineide Maria dos Santos tem sua data de nascimento registrada no dia 6
de abril. Hoje, no entanto, ela diz que comemora seu aniversário em outro
dia: ´nasci de novo quando fiz a cirurgia, no dia 13 de abril desse ano´. O
entusiasmo da dona de casa, de 46 anos, se justifica pela intervenção
cirúrgica que fez para reduzir o estômago (gastroplastia, ou redução
bariátrica), há oito meses. Antes disso, com 110 quilos distribuídos em
1,58 m, ela relata que sua vida era limitada pela dificuldade em se
locomover e até respirar. Atualmente, Jucineide está com 65 quilos e leva
uma vida normal. Para ter de volta a capacidade de realizar pequenas
tarefas - como amarrar o cadarço do tênis - e, consequentemente, ter sua
auto-estima restituída, um aliado foi de fundamental importância: o
trabalho de fisioterapia.

Realizados antes (para preparar o paciente) e após a cirurgia (para reabilitar), os procedimentos fisioterapêuticos são importantes, de acordo com
Dayse Meireles, coordenadora de fisioterapia do Núcleo do Obeso do Ceará, para adaptar o paciente ao seu novo estilo de vida.

Entre as principais atribuições da fisioterapia junto a essas pessoas estão os exercícios respiratórios, promovidos tanto no pré como no
pós-operatório. ´O obeso tem muito tecido gorduroso circundando o tórax e o abdômen dele. Ele trabalha o diafragma com uma desvantagem mecânica, como
se recebesse uma carga a mais. Assim, acaba tendo uma respiração curta´, diz Dayse. A fisioterapeuta explica que os exercícios de padrões musculares
respiratórios são feitos para proporcionar ao operado uma capacidade maior de expandir seus pulmões.

Monitoramento

A clínica coordenada por Dayse conta com equipamentos que são oferecidos usualmente em academias de ginástica. Entretanto, ela afirma não gostar desse
termo. ´Aqui não é uma academia. É uma clínica de reabilitação, que trabalha com pacientes visando o seu restabelecimento´, ressalta.

Entre caminhadas e trabalhos com pesos, são rigorosamente monitoradas a pressão arterial, a oxigenação pulmonar e, ainda, para os pacientes cardíacos,
são realizadas atividades físicas com monitores cardíacos, caso haja necessidade. ´Como eles estão em uma dieta de restrição calórica, podem, durante
a atividade física, sofrer hipotensão, hipoglicemia, ou sentir-se tontos. Somos orientados por uma equipe médica (incorporada ao Núcleo) para saber o
que fazer diante dessas situações´, comenta a fisioterapeuta.

A idéia de montar esse centro de reabilitação surgiu, segundo Dayse, porque se observava um receio por parte dos pacientes em realizar atividades
físicas em uma academia comum.

´Na academia, as pessoas riam de mim. Eu ficava preocupada em dizer para elas que eu não era gorda porque queria. Hoje, me sinto muito melhor. A
doutora me acompanhou desde o princípio, sabe das minhas condições físicas e isso é muito importante´, conta Jucineide.

´Eu conheço o paciente desde o pré-operatório, sei quais os remédios que toma, como foi seu pós-operatório. Isso me respalda para cuidar melhor dele´,
completa Dayse.

Postura

Como os pacientes apresentam alterações osteomioarticulares devido ao emagrecimento rápido, faz-se premente a realização de um trabalho de
reorganização postural. ´Quando ele perde essa quantidade de peso rapidamente, o seu corpo se desorganiza. O ponto gravitacional vai se voltando para
longe do corpo. E isso provoca uma dor desde a região cervical até a sacra´, explana Dayse. Para corrigir a postura, o ideal é aliar aos exercícios
físicos o isostretching (um tipo de ginástica postural) e também Reeducação Postural Global (RPG).

A especialista pondera que outro aspecto importante a ser trabalhado é a cabeça do paciente. ´Aqui, eles conseguem ter o apoio psicológico do grupo.
Porque os que já estão aqui, tiveram as mesmas experiências, têm um objetivo comum e as mesmas restrições´.

Como parte desse acompanhamento, no centro, ocorrem reuniões periódicas com os pacientes para acompanhar o desenvolvimento do tratamento. ´A gente tem
que ficar de olho nele durante um período. Depois que ele começa a emagrecer mesmo, a pegar gosto, se ele for bem supervisionado, vai conseguir um
resultado muito bom a longo prazo´, defende Dayse.

Riscos

Não obstante o entusiasmo de boa parte dos pacientes que passam por esse procedimento cirúrgico, é preciso lembrar que a redução bariátrica não é algo
tão simples. É o que faz questão de salientar o Dr. Luiz Moura, cirurgião do aparelho digestivo e coordenador do Núcleo do Obeso do Ceará. ´Todo
procedimento médico tem riscos e este não é diferente. E os pacientes ficam sabendo disso´. O especialista informa que, antes de passar pela cirurgia
- considerada de grande porte -, o indivíduo obeso (que normalmente já está em situação de obesidade mórbida, com Índice de Massa Corporal - IMC acima
de 40) deve preferencialmente perder 10% do peso para que sejam diminuídos os riscos. Dr. Luiz Moura afirma que é fundamental o acompanhamento de uma
equipe multidisciplinar, composta por psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo, enfermeiro e nutricionista, tanto antes como após a intervenção
cirúrgica.

VIDA NORMAL

6 meses é o período necessário, após a gastroplastia, para que o paciente esteja apto a realizar qualquer atividade física (dependendo de sua idade),
segundo o Dr. Luiz Moura.

SAIBA MAIS

Após a cirurgia, o paciente já deve começar a caminhar logo no primeiro dia, podendo sair da sala de recuperação ou da UTI para seu apartamento, no
hospital, já caminhando.

No primeiro mês, o paciente toma apenas líquido - 20ml, de 10 em 10 minutos. A reserva de gordura que fica se transforma em combustível para as
queimas necessárias do dia-a-dia.

Com um mês após a cirurgia, o paciente já pode iniciar a reabilitação com fisioterapia e exercícios físicos.

A fisioterapia não objetiva, nos primeiros meses após a cirurgia, que o paciente ganhe músculos, mas que apenas preserve a sua massa magra.

Antes de passar pela cirurgia, recomenda-se que o paciente perca em torno de 10% de seu peso para diminuir os riscos.

Obesidade infantil 'se define antes dos cinco anos', diz estudo

A obesidade infantil pode estar determinada antes dos cinco anos de idade,
de acordo com um estudo britânico publicado na revista Pediatrics, que
acompanhou 233 crianças do nascimento à puberdade na Grã-Bretanha.

Em comparação com as crianças nos anos 80, as de hoje são mais gordas e a maior parte do excesso de peso é adquirida antes de elas completarem cinco
anos de idade, de acordo com os cientistas.

Os autores do estudo acreditam que a dieta das crianças seria uma principias causas e sugerem que a prevenção à obesidade comece antes de as crianças
entrarem na escola.

Uma em cada quatro crianças de até cinco anos é obesa na Inglaterra, segundos os últimos dados.

Doença de nosso tempo

Segundo o estudo, o peso das crianças ao nascer permanece semelhante aos níveis de 25 anos atrás, mas elas se tornam mais gordas até a puberdade, em
comparação com as crianças da mesma idade nos anos 80.

O peso aos cinco anos de idade, segundo os autores, é um bom indicativopara se prever o peso das crianças aos nove anos de idade.

Antes de uma menina obesa entrar para a escola, ela já terá adquirido cerca de 90% de seu excesso de peso. Para os meninos, este número é de 70%.

O chefe da pesquisa, Professor Terry Wilkin, da Peninsula Medical School, em Plymouth, disse que "quando elas chegam aos cinco anos, sua dieta parece
já estar estabelecida, pelo menos até chegarem à puberdade".

"O que está causando isso é muito difícil saber."

Segundo Wilkin, há um fator hoje que não existia há 25 anos e está tornando as crianças obesas.

E, dado à jovem idade, isso provavelmente ocorre nas casas das crianças, e não no ambiente escolar, e está mais ligada à criação do que à
escolaridade.

Dieta

Mais do que a falta de exercícios, ele acredita que a dieta pode ser responsável pelo excesso de peso.

"É inteiramente possível que a densidade calórica dos alimentos e os tamanhos das porções podem ser maiores."

Segundo o especialista, as estratégias para evitar a obesidade infantil e os problemas de saúde que ela acarreta, como a diabete, podem ter melhor
resultado se aplicadas em crianças de idade pré-escolar.

Segundo o Professor Wilkin, as estratégias se concentram muito nas refeições escolares, exercícios e sedentarismo em frente à TV e jogos eletrônicos,
mas todas essas são questões que afetam as crianças em idade escolar.

Mas ele afirma que a recente decisão do governo de ordenar a medição do peso e altura de todas as crianças ao entrar na escola é uma boa medida, não
apenas como registro das tendências, mas para apontar futuros riscos de cada criança.

Especialistas avaliam os níveis de obesidade na Grã-Bretanha como "uma crise prestes a ocorrer", mas também afirmam que nunca é tarde, já que a
obsidade é um dos poucos problemas de saúde sérios que podem ser revertidos rapidamente.

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