de abril. Hoje, no entanto, ela diz que comemora seu aniversário em outro
dia: ´nasci de novo quando fiz a cirurgia, no dia 13 de abril desse ano´. O
entusiasmo da dona de casa, de 46 anos, se justifica pela intervenção
cirúrgica que fez para reduzir o estômago (gastroplastia, ou redução
bariátrica), há oito meses. Antes disso, com 110 quilos distribuídos em
1,58 m, ela relata que sua vida era limitada pela dificuldade em se
locomover e até respirar. Atualmente, Jucineide está com 65 quilos e leva
uma vida normal. Para ter de volta a capacidade de realizar pequenas
tarefas - como amarrar o cadarço do tênis - e, consequentemente, ter sua
auto-estima restituída, um aliado foi de fundamental importância: o
trabalho de fisioterapia.
Realizados antes (para preparar o paciente) e após a cirurgia (para reabilitar), os procedimentos fisioterapêuticos são importantes, de acordo com
Dayse Meireles, coordenadora de fisioterapia do Núcleo do Obeso do Ceará, para adaptar o paciente ao seu novo estilo de vida.
Entre as principais atribuições da fisioterapia junto a essas pessoas estão os exercícios respiratórios, promovidos tanto no pré como no
pós-operatório. ´O obeso tem muito tecido gorduroso circundando o tórax e o abdômen dele. Ele trabalha o diafragma com uma desvantagem mecânica, como
se recebesse uma carga a mais. Assim, acaba tendo uma respiração curta´, diz Dayse. A fisioterapeuta explica que os exercícios de padrões musculares
respiratórios são feitos para proporcionar ao operado uma capacidade maior de expandir seus pulmões.
Monitoramento
A clínica coordenada por Dayse conta com equipamentos que são oferecidos usualmente em academias de ginástica. Entretanto, ela afirma não gostar desse
termo. ´Aqui não é uma academia. É uma clínica de reabilitação, que trabalha com pacientes visando o seu restabelecimento´, ressalta.
Entre caminhadas e trabalhos com pesos, são rigorosamente monitoradas a pressão arterial, a oxigenação pulmonar e, ainda, para os pacientes cardíacos,
são realizadas atividades físicas com monitores cardíacos, caso haja necessidade. ´Como eles estão em uma dieta de restrição calórica, podem, durante
a atividade física, sofrer hipotensão, hipoglicemia, ou sentir-se tontos. Somos orientados por uma equipe médica (incorporada ao Núcleo) para saber o
que fazer diante dessas situações´, comenta a fisioterapeuta.
A idéia de montar esse centro de reabilitação surgiu, segundo Dayse, porque se observava um receio por parte dos pacientes em realizar atividades
físicas em uma academia comum.
´Na academia, as pessoas riam de mim. Eu ficava preocupada em dizer para elas que eu não era gorda porque queria. Hoje, me sinto muito melhor. A
doutora me acompanhou desde o princípio, sabe das minhas condições físicas e isso é muito importante´, conta Jucineide.
´Eu conheço o paciente desde o pré-operatório, sei quais os remédios que toma, como foi seu pós-operatório. Isso me respalda para cuidar melhor dele´,
completa Dayse.
Postura
Como os pacientes apresentam alterações osteomioarticulares devido ao emagrecimento rápido, faz-se premente a realização de um trabalho de
reorganização postural. ´Quando ele perde essa quantidade de peso rapidamente, o seu corpo se desorganiza. O ponto gravitacional vai se voltando para
longe do corpo. E isso provoca uma dor desde a região cervical até a sacra´, explana Dayse. Para corrigir a postura, o ideal é aliar aos exercícios
físicos o isostretching (um tipo de ginástica postural) e também Reeducação Postural Global (RPG).
A especialista pondera que outro aspecto importante a ser trabalhado é a cabeça do paciente. ´Aqui, eles conseguem ter o apoio psicológico do grupo.
Porque os que já estão aqui, tiveram as mesmas experiências, têm um objetivo comum e as mesmas restrições´.
Como parte desse acompanhamento, no centro, ocorrem reuniões periódicas com os pacientes para acompanhar o desenvolvimento do tratamento. ´A gente tem
que ficar de olho nele durante um período. Depois que ele começa a emagrecer mesmo, a pegar gosto, se ele for bem supervisionado, vai conseguir um
resultado muito bom a longo prazo´, defende Dayse.
Riscos
Não obstante o entusiasmo de boa parte dos pacientes que passam por esse procedimento cirúrgico, é preciso lembrar que a redução bariátrica não é algo
tão simples. É o que faz questão de salientar o Dr. Luiz Moura, cirurgião do aparelho digestivo e coordenador do Núcleo do Obeso do Ceará. ´Todo
procedimento médico tem riscos e este não é diferente. E os pacientes ficam sabendo disso´. O especialista informa que, antes de passar pela cirurgia
- considerada de grande porte -, o indivíduo obeso (que normalmente já está em situação de obesidade mórbida, com Índice de Massa Corporal - IMC acima
de 40) deve preferencialmente perder 10% do peso para que sejam diminuídos os riscos. Dr. Luiz Moura afirma que é fundamental o acompanhamento de uma
equipe multidisciplinar, composta por psicólogo, nutricionista, fonoaudiólogo, enfermeiro e nutricionista, tanto antes como após a intervenção
cirúrgica.
VIDA NORMAL
6 meses é o período necessário, após a gastroplastia, para que o paciente esteja apto a realizar qualquer atividade física (dependendo de sua idade),
segundo o Dr. Luiz Moura.
SAIBA MAIS
Após a cirurgia, o paciente já deve começar a caminhar logo no primeiro dia, podendo sair da sala de recuperação ou da UTI para seu apartamento, no
hospital, já caminhando.
No primeiro mês, o paciente toma apenas líquido - 20ml, de 10 em 10 minutos. A reserva de gordura que fica se transforma em combustível para as
queimas necessárias do dia-a-dia.
Com um mês após a cirurgia, o paciente já pode iniciar a reabilitação com fisioterapia e exercícios físicos.
A fisioterapia não objetiva, nos primeiros meses após a cirurgia, que o paciente ganhe músculos, mas que apenas preserve a sua massa magra.
Antes de passar pela cirurgia, recomenda-se que o paciente perca em torno de 10% de seu peso para diminuir os riscos.