segunda-feira, 27 de julho de 2009

Bancada dos neomagros

Há uma nova bancada no Congresso: a dos políticos que se submeteram a cirurgias bariátricas - de redução do estômago. A bancada dos neomagros é uma das faces mais visíveis do contingente de 30 000 brasileiros que deixaram as maratonas em spas, as dietas esdrúxulas e as bolas para emagrecer e optaram por um, digamos, posicionamento mais radical diante da realidade calórica. O mais novo integrante dessa bancada é o primeiro-secretário do Senado, Heráclito Fortes (DEM-PI), de 58 anos, que se submeteu à intervenção há um mês. Heráclito exibia 1 metro e 30 centímetros de cintura (quarenta centímetros a mais do que o ideal) e sofria de três problemas relacionados à obesidade: hipertensão arterial, glicose elevada e apneia do sono - aquelas interrupções da respiração durante a noite.
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O senador piauiense lutou contra a balança por quinze anos. Nesse período, adotou os mais diversos tipos de regimes. "O pior foi a dieta do atum", lembra. "Durante três meses, só comi esse peixe. Não agüento mais nem sentir o cheiro dele", diz. O mais eficiente foi o corte radical de carboidratos e sua substituição por proteínas e gorduras, conforme a receita preconizada pelo médico americano Robert Atkins (que, aliás, morreu fulminado por um infarto). "Cheguei a perder 18 quilos, mas os recuperei de novo, porque não agüentei ficar sem carboidratos", diz. Mas nada foi mais traumático para ele do que a experiência com Xenical.

Nos anos 90, quando ainda era deputado, Heráclito usou o remédio que facilita a eliminação de gordura pelas fezes. "Naquele tempo, eu não podia ter emoções fortes. Vi colegas que não conseguiam se controlar e se sujavam nos corredores da Câmara", diz. Ainda assim, convenhamos, a sujeira é maior agora, quando já não há deputados tomando Xenical. Ele agora está decidido a atropelar na disputa final com a balança. Em 40 dias, perdeu 20 quilos. "Fortes, agora, é só no nome. Vou voltar a ser o gato que eu era na juventude", anuncia. Brasília vai tremer.

Foi no fim do ano passado que o senador Demóstenes Torres (DEM-GO), de 48 anos, recebeu o diagnóstico que o levaria a decidir-se pela cirurgia bariátrica. Como seu quadro de diabetes havia piorado, o médico prescreveu-lhe injeções diárias de insulina. "Vi, então, que estava na hora de operar", diz. O diabetes de Demóstenes data de 1995, mas não havia mudado seus hábitos alimentares. "Eu era um glutão que comia três pamonhas no lanche. Agora, só consigo comer metade de uma pamonha no lugar da refeição", compara.

No Senado, a pioneira da bancada dos neomagros é a aguerrida Ideli Salvatti (PT-SC), de 56 anos. "Fazer a cirurgia foi uma questão de sobrevivência, porque eu já estava no estágio de obesidade mórbida", diz. "Sem a operação, eu não aguentaria os rojões que seguro no Congresso", diz Ideli, chamada de "pit bull do governo".

Desde que se submeteu ao procedimento, em novembro de 2003, a senadora perdeu 40 quilos - quer dizer, 37: três deles voltaram nas eleições de 2008. "Outro dia, tentei em vão levantar a quantidade de peso que perdi em sacos de arroz de cinco quilos cada um. Como eu conseguia carregar aquilo tudo, gente?", pergunta-se. Hoje, Ideli ingere um terço da comida que costumava traçar às refeições. "Passei a me amar muito", afirma. E a ser amada. Bem mais magra, Ideli modernizou o guarda-roupa e passou a namorar um sargento do Exército doze anos mais jovem que ela. Ao lado dele, a danadinha até parece uma lulu!

As cirurgias de redução de estômago só devem ser feitas em pacientes com sérios problemas de obesidade ou de diabetes e que precisam mudar seus hábitos, caso dos parlamentares ouvidos nesta reportagem. "A intervenção só resolve metade do problema. A outra depende de o paciente fazer atividade física regular e se alimentar de forma saudável", diz Thomas Szegö, presidente da Sociedade de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. A cirurgia pode até ser perigosa para quem não muda de vida. De acordo com a deputada estadual mineira Gláucia Brandão (PPS), seu marido, o deputado estadual Eduardo Brandão, morreu porque não se adaptou às novas dimensões do estômago operado e continuou a ser desregrado. Em 2005, um infarto o matou aos 47 anos. "Eduardo perdeu 32 quilos, mas continuava comendo gordura e não fazia exercícios", diz Gláucia.