segunda-feira, 27 de julho de 2009

Cirurgia pode tratar obesidade leve



Conhecida como gastrectomia vertical, técnica não interrompe ligação do estômago com o intestino

FERNANDA BASSETTE

Uma nova técnica cirúrgica de redução de estômago foi regulamentada, depois de um consenso da SBCBM (Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica). Na técnica, chamada gastrectomia vertical, o médico retira cerca de 80% do estômago do paciente e o transforma em um tubo contínuo que vai do esôfago até o duodeno, preservando a ligação com o intestino.

De acordo com o cirurgião Marcos Leão Vilas-Boas, vice-presidente da SBCBM, nesses casos, a pessoa perde cerca de 30% do peso e emagrece sem perder nutrientes, pois não há alteração na digestão e os alimentos continuam sendo absorvidos normalmente.

“O paciente sente menos fome, come menos e tem sensação de saciedade. A diferença para as outras técnicas é que a perda de peso é um pouco menor e acontece mais devagar”.

Desenvolvida no Canadá, a gastrectomia vertical é regulamentada no Brasil como a primeira etapa de um procedimento cirúrgico mais complexo em pacientes superobesos, que precisam perder muitos quilos antes de passar pela cirurgia tradicional, conhecida como bypass gástrico.

No bypass, mais de 90% do estômago é separado e grampeado. A digestão também é alterada, pois o estômago que sobra é ligado diretamente ao íleo e há menos absorção de alguns nutrientes. O paciente perde cerca de 40% do peso.

Com o tempo, os canadenses perceberam que fazer apenas a primeira parte da cirurgia nos superobesos proporcionava bons resultados. Daí surgiu a idéia de realizar essa cirurgia como um procedimento isolado em pessoas que querem perder menos peso.

A idéia da SBCBM é que, a partir da regulamentação da técnica, a gastrectomia vertical seja oficialmente recomendada e feita como rotina em pacientes que não são superobesos.

A intenção é aprovar a técnica para pessoas com obesidade de grau 1 (índice de massa corpórea entre 30 e 35, que antes não seria indicação cirúrgica), pacientes com risco cirúrgico elevado por doenças associadas, casos de alterações cirúrgicas necessárias e, por último, para pacientes que preferem fazer essa cirurgia.

Para sustentar a proposta de consenso com as novas indicações e a regulamentação da técnica, o cirurgião Josemberg Marins Campos, professor da Universidade Federal de Pernambuco, fez um levantamento sobre a cirurgia no Brasil.

De acordo com a pesquisa, nos últimos quatro anos, 35 cirurgiões já realizaram, de forma experimental, a gastrectomia vertical em 2.123 pacientes que não eram superobesos.

Desse total, 24% disseram que realizaram a gastrectomia por necessidade no momento da operação (ao descobrir algum problema após o início do procedimento), 18% afirmaram tê-la feito em pacientes com risco elevado para outras cirurgias, 17% a fizeram em pessoas com IMC entre 30 e 35 e 13% seguiram a escolha do paciente.

Como se trata de um procedimento novo, o levantamento nacional não conseguiu avaliar os resultados a longo prazo da cirurgia nos pacientes.

Mas, segundo Campos, apenas 16 médicos relataram ter tido algum tipo de intercorrência após o procedimento. Não houve relato de morte.

A intercorrência mais comum foi o aparecimento de fístola (vazamento por causa do grampeamento do estômago), seguida de refluxo gástrico nos primeiros três meses depois da cirurgia, e da recuperação de parte do peso perdido.

Marcos Leão Vilas-Boas diz que muitos pacientes que procuram a cirurgia não querem perder tanto peso, por isso ela se torna uma boa alternativa.

O endocrinologista Márcio Mancini, presidente da Abeso (Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e da Síndrome Metabólica), diz que o procedimento é eficiente, mas teme que aprová-lo para pessoas com IMC igual a 30 seja uma banalização da cirurgia.

Para ele, a indicação cirúrgica nesses casos deve acontecer só para pessoas com outras doenças associadas.

“Uma pessoa com IMC igual a 30 está com 12, 15 quilos acima do peso. É preciso tomar cuidado com a indicação, senão muitas pessoas com esse peso lançarão mão desse artifício para emagrecer rapidamente em vez de fazer dieta e exercícios”.

CIRURGIA BARIÁTRICA

A gastrectomia vertical deve entrar na lista de opções de técnicas de redução de estômago

GASTRECTOMIA VERTICAL

Cerca de 80% do estômago é retirado do organismo. Nessa parte retirada era produzido o hormônio grelina (que estimula o apetite)

A parte do estômago que restou é grampeada e transformada em um tubo contínuo que vai do esôfago até o duodeno, onde os alimentos são absorvidos. Não há mudanças no processo digestivo.

Indicações

Pessoas com obesidade grau 1 (com índice de massa corpórea entre 30 e 35);

Pacientes com risco cirúrgico elevado por causa de doenças associadas;

Mudanças cirúrgicas;

Pacientes que preferem se submeter a esse procedimento dentre os outros disponíveis.

Desvantagem

Os médicos temem que, em dez anos, os pacientes voltem a ganhar peso porque o estômago tende a dilatar.

A técnica mais usada – BYPASS GÁSTRICO

Mais de 90% do estômago é separado do resto e grampeado. O órgão continua no organismo.

O processo digestivo é alterado: o estômago é ligado diretamente ao íleo, impedindo que a comida passe pelo duodeno, onde se iniciaria a sua absorção.

Indicações

Pacientes obesos com índice de massa corpórea maior que 35 (em casos de doenças associadas) ou maior que 40.

Desvantagem

Como há menos absorção de nutrientes, os pacientes precisam fazer reposição vitamínica constantemente.