terça-feira, 21 de outubro de 2008

Obesidade ligada aos centros de prazer do cérebro


Uma ativação demasiado fraca dos centros de prazer no cérebro pode contribuir para o desenvolvimento da obesidade. Segundo um estudo de uma equipa norte-americana de cientistas, as pessoas com excesso de peso podem ter uma capacidade inferior de sentirem prazer quando comem, o que as pode levar a comer mais para obterem satisfação.

Eric Stice, psicólogo da Universidade do Texas e principal autor do estudo, afirma que trabalhos recentes indiciavam a existência de uma ligação entre os centros de prazer e a obesidade, mas o novo estudo colocou pela primeira vez em evidência este dado biológico.

O trabalho, publicado na revista Science, envolveu investigadores da Universidade do Texas, cientistas do Oregon Research Institute e neurocientistas da Escola de Medicina da Universidade de Yale, em Connecticut. O grupo recorreu à ressonância magnética funcional para examinar a extensão da ativação dos receptores de prazer em jovens mulheres quando estas ingeriram um batido de chocolate e, como oposto, uma solução sem sabor.

As participantes foram submetidos a testes, para detectar a presença de uma variante genética ligada a um menor número de receptores de dopamina (neurotransmissor emitido por células nervosas que promove a sensação de prazer), e monitorizados durante um ano, medindo o índice de massa corporal.

Comer desencadeia a produção de dopamina. Segundo Eric Stice, que estuda a obesidade e as disfunções alimentares há mais de 20 anos, “esta investigação revela que as pessoas obesas podem ter menos receptores de dopamina nos seus cérebros, o que as leva a comer mais para compensarem o défice de prazer”.

Um primeiro estudo visou 43 estudantes, entre os 18 e os 22 anos, com um IMC médio de 28,6. Foi também acompanhado um segundo grupo de 33 adolescentes, entre os 14 e os 18 anos, com um IMC médio de 24,3. As participantes com IMC mais elevados registravam, ao fim de um ano, as respostas mais fracas dos seus centros de prazer no cérebro e possuíam também a variante genética responsável pela redução da produção de dopamina.

“Apesar de as pessoas com menor sensibilidade no circuito de recompensa correrem um risco mais elevado de ganharem peso, alterar o modo de vida, fazendo mais exercício, ou cumprir tratamentos farmacológicos, poderá corrigir este défice de recompensa, prevenindo ou tratando a obesidade”, vincou o investigador.

Dados do estudo

Título: Relation Between Obesity and Blunted Striatal Response to Food Is Moderated by TaqIA A1 Allele
Publicação: Science, 17 de Outubro de 2008, volume 322, páginas 449-452
Autores: E. Stice, S. Spoor, C. Bohon, D. M. Small