O peso e a distribuição da gordura no corpo são regulados por uma série de mecanismos neurológicos, metabólicos e hormonais que mantêm um equilíbrio entre a ingesta (alimentos e bebidas ingeridos) e o gasto energético. Quando há um excesso da ingesta em relação ao gasto energético, ocorre um armazenamento da sobra de energia sob a forma de gordura, traduzindo-se no aumento do peso corpóreo.
A obesidade é portanto definida como um excesso do acúmulo de gordura no corpo. Quando este acúmulo atinge grandes proporções, passa a ser chamada de obesidade mórbida. A maneira mais utilizada pelos médicos para quantificar a obesidade é o cálculo do Índice de Massa Corporal, ou simplesmente IMC, que é obtido dividindo-se o peso (em quilos) pela altura (em metros) elevada ao quadrado (IMC = P ÷ A2). A faixa de peso normal considerando-se o IMC varia de 19 a 25 Kg/m2. Pessoas com IMC de 25 a 30 são consideradas como acima do peso enquanto aquelas entre 30 e 40 já são classificadas como obesas.
Finalmente, pessoas com IMC acima de 40, são portadoras de obesidade mórbida, o que equivale a aproximadamente 45 Kg acima do peso ideal. A estratificação dos indivíduos com base no IMC, agrupando-os em diferentes classes de peso, guarda uma relação direta com a taxa de mortalidade, variando de "baixíssima" em pessoas com índice normal até "altíssima" naqueles com IMC acima de 40 Kg/m2.
Mortalidade e Obesidade:
Fonte: Roche. Mortes/ano nos EUA (em milhares) que poderiam ser evitadas com preenção ou tratamento.
Causas da Obesidade:
Hereditariedade
Deficiência ou falha da molécula leptina, que controla a quebra e a utilização da gordura.
Hormônios
Hipotireoidismo, ovários policísticos e outras;
Puberdade, gravidez, menopausa e andropausa.
Medicamentos
Antihistamínicos, anticoncepcionais e antidepressivos.
Emocionais
Ansiedade e depressão provocam compulsão.
Hábitos
"Beliscar" a todo o momento, lanches fora de hora, frituras e doces em excesso;
Vida sedentária e estressante;
Alimentação diária em "fast foods" e a falta de alimentos saudáveis.
A Obesidade no Mundo:
A obesidade é um dos maiores problemas de saúde deste novo milênio, acometendo quase um terço da população mundial. Infelizmente não existe milagre, nem mágica, que promova a perda de peso sem a colaboração e a motivação do indivíduo; os sacrifícios, portanto precisam ser conhecidos.
Somente na América Latina, é provável que 200.000 pessoas morram anualmente em decorrência das complicações da obesidade. No Brasil, o problema vem tomando proporções cada vez maiores. Dados mais recentes mostram que ele já ocupa o sexto lugar no ranking dos países com maior número de obesos, atrás apenas dos Estados Unidos, Alemanha, Inglaterra, Itália e França.
Opções de tratamento mais utilizadas:
Existem várias alternativas terapêuticas que, combinadas, conseguem boas perdas de peso como as dietas de baixas e muito baixas calorias, a psicoterapia, a terapia comportamental, o exercício físico, e algumas drogas como a sibutramina (Plenty®, Reductil®) e o orlistat (Xenical®) que incrementaram o arsenal terapêutico da obesidade. Porém, quando se trata de obesidade mórbida, essas medidas, na maioria das vezes, são fugazes e ineficientes. Isto porque a imensa maioria dos pacientes não consegue promover uma mudança nos seus hábitos alimentares e na prática de atividade física de forma definitiva.
Além disso, existem alterações nos mecanismos que controlam a distribuição da gordura e o gasto energético, fazendo com que haja uma grande tendência à recuperação do peso perdido, superando inclusive o peso inicial e se tornando ainda mais obeso, fenômeno popularmente conhecido como "efeito sanfona". Os pacientes com obesidade mórbida devem, portanto, ser encarados como portadores de uma doença séria, que ameaça a vida, reduz a qualidade de vida e a auto-estima, e que requerem medidas eficientes para promover a perda de peso de forma definitiva.
A cirurgia bariátrica (nome utilizado para se definir a cirurgia para obesidade mórbida) é o único método cientificamente comprovado que promove uma acentuada e duradoura perda de peso, reduzindo as taxas de mortalidade e resolvendo, ou pelo menos minimizando, uma série de doenças associadas à obesidade grave.Como é a Cirurgia para Obesidade:
A cirurgia bariátrica deve, em primeiro lugar, ser bem diferenciada de algumas técnicas da cirurgia plástica. Não estão incluídas nesta especialidade procedimentos estéticos como lipo-aspiração, lipo-redução, dermolipectomia, e outros do gênero. O princípio da cirurgia bariátrica consiste em induzir a perda de peso por meios cirúrgicos, e ao longo de mais de 50 anos de existência este tipo de cirurgia transformou-se numa sub-especialidade da cirurgia geral, acumulando dezenas de técnicas diferentes para tratar o problema do grande obeso. De um modo geral, a perda de peso pode ser obtida por dois caminhos: pela redução da capacidade de armazenamento do estômago e de sua velocidade de esvaziamento (cirurgias restritivas), ou pela exclusão de grandes segmentos de intestino delgado evitando que os nutrientes sejam absorvidos (cirurgias disabsortivas). A Banda Gástrica é um exemplo de cirurgia puramente restritiva, onde se diminui o tamanho do reservatório de alimento. Nas técnicas disabsortivas promove-se um encurtamento do intestino delgado, reduzindo o tempo de contato dos nutrientes com as células intestinais dificultando sua absorção, a Derivação Bilio-Pancreática de Scopinaro é a principal representante deste grupo. Existe ainda um grupo chamado de cirurgia mista, que combina os dois princípios básicos (diminui a capacidade de armazenar e absorver os alimentos), é o "Bypass gástrico" ou Cirurgia de Fobi-Capella. Infelizmente não existe a cirurgia absolutamente perfeita que se encaixe em todos os casos; cada técnica possui vantagens e desvantagens que devem ser analisadas em cada paciente de acordo com suas expectativas e prioridades, observando-se suas características pessoais como idade, sexo, raça, grau de obesidade, hábitos alimentares, nível sócio-cultural e perfil psicológico-comportamental. Durante a avaliação médica o cirurgião e o paciente decidirão juntos qual a melhor alternativa.
A obesidade mórbida está associada a graves co-morbidades como hipertensão arterial, diabetes, doenças cardiovasculares, alterações tromboembólicas, refluxo gastro-esofágico, doenças articulares, além de diversas formas de câncer (mama, útero, vesícula biliar, etc.), dentre outras, causando um risco de morte 12 vezes maior que o indivíduo sem excesso de peso em 7 anos. A taxa de mortalidade de mulheres com 50 % além do peso, por exemplo, é o dobro das mulheres com peso normal; subindo para oito vezes se houver diabetes associado.
Em pessoas com obesidade severa, o risco de apresentar diabetes está aumentado cerca de 53 vezes, o do câncer de endométrio 5,4 vezes. Mais ainda, quando o indivíduo atinge os duzentos quilos, a chance dele viver mais sete anos é de apenas 50 %. Um outro fato dramático que ilustra a gravidade da obesidade e que mostra a baixa expectativa de vida deste grupo de doentes é ilustrado ao se avaliar os indivíduos que entraram para o Guiness Book (O livro dos recordes), onde nenhuma das pessoas consideradas as mais pesadas ultrapassou os 40 anos de idade. Para piorar, o grande obeso tem a sua doença "estampada na cara" para que todos o vejam, o julguem e o discriminem. Não bastassem as doenças que trazem consigo, não bastasse ter dificuldade em realizar os mais comuns dos atos cotidianos, essas pessoas são discriminadas e humilhadas pela pior de todas as doenças, o preconceito.
Quem deve ser operado:
A cirurgia está indicada para os pacientes adultos que apresentam IMC maior que 40 Kg/m2 , ou maior que 35 Kg/m2 acompanhado de doenças que venham a se beneficiar clinicamente com a redução do peso.
O paciente deve estar completamente consciente dos riscos e benefícios e estar disposto a mudar seu estilo de vida, seu padrão alimentar e seguir as orientações e o acompanhamento médico. Embora apenas uma pequena parcela dos grande-obesos consiga uma perda de peso definitiva, é indispensável que tratamentos clínicos bem orientados tenham sido tentados antes da cirurgia.
Contra-Indicações:
A cirurgia está contra-indicada em pacientes que têm uma alta propensão a não seguir as instruções pós-operatórias e o acompanhamento médico, bem como naquelas situações médicas que possam representar um risco adicional não justificável para o paciente como por exemplo:
Depressão endógena importante, alcoólatras e usuários de drogas ilícitas;
Crianças e adolescentes, exceto em situações especiais;
Presença de hérnia hiatal volumosa (contra indicação para banda gástrica), varizes esofágicas, doenças imunológicas ou inflamatórias do trato digestivo superior que venham a predispor o indivíduo a sangramento digestivo ou outras condições de risco;
Infecção estabelecida ou suspeitada que possibilite a contaminação da cirurgia;
Presença de doença cardio-respiratória grave e descompensada.
História de manifestação alérgica ao silicone ou a algum dos componentes do sistema (contra indicação para banda gástrica);
Pacientes que, devido a instabilidade emocional e/ou psicológica, algum membro da equipe multidisciplinar venha a considerar impossível o acompanhamento e a obediência às instruções pós-operatórias.