quinta-feira, 9 de abril de 2009

Cirurgia bariátrica e hormônio de crescimento



Há mais de vinte anos os cirurgiões ligados a especialidade de gastro-enterologia tiveram a ideia de reduzir o volume do estômago com a finalidade de diminuir o peso corporal de indivíduos com grande excesso ponderal. De uma forma arbitrária, mas que se tornou uma regra, a chamada cirurgia bariátrica é indicada somente para obesos com índice de massa corporal (IMC) superior a 40 ( IMC = o peso do paciente em quilos dividido pela altura em metros ao quadrado). Sabe-se que os obesos com mais de 40 kg/m² têm perspectivas de várias doenças concomitantes em futuro próximo.

Por exemplo, estes obesos terão (ou já têm) pressão alta, que necessita medicação constante, problemas de diabetes tipo 2, insulina muito elevada na circulação (levando a quadro de resistência à ação da insulina), muita gordura no fígado (esteatose hepática), tendência à insuficiência das artérias do coração (doença coronariana), depósito de colesterol nas artérias em geral e em artérias do sistema nervoso central, em particular, com alto risco para acidente vascular cerebral.

Além de todos estes problemas de saúde o obeso mórbido tem dificuldade de locomoção por artrose nos joelhos e dores na coluna lombar, o que o faz ser muito sedentário (e cada vez mais gordo).

Os tratamentos clínicos nem sempre dão resultados

O obeso sempre procura, por vontade própria, o auxílio médico para resolver o seu enorme problema. Mas, infelizmente, quando a obesidade chega a nível superior a 40, parece que o "fomestato" - ou o mecanismo que controla fome e saciedade, está "quebrado'. Apesar de tentar seguir o regime, de se privar do que gosta, de ver passar à sua frente os doces, sorvetes, chocolates, pizzas e macarronadas, churrascos com os amigos, festas de aniversário, comemorações de formatura, banquetes de casamento, etc., o obeso, mesmo medicado, tem perda de peso inicial (muito elogiada por todos), mas logo volta a ganhar peso.

E o que é pior: ganha peso em valor superior do precedente do início da dieta. Após 4 ou 5 tentativas de corrigir o grande excesso de peso vem o desânimo "eu não tenho jeito mesmo!". Muitas vezes o fator genético é importante e atua no sentido de acumular gordura, em grau crescente.
Várias são as modalidades de cirurgia bariátrica

Diante deste quadro, o obeso passa a pensar na "operação de redução do estômago". Informa-se com seu clínico geral, conversa com pacientes que já foram operados, ouve a opinião da família e procura o cirurgião que lhe foi indicado. Nesta consulta fica sabendo que existem várias modalidades de operação. A mais simples é colocar um balão no estômago, mas as reações colaterais, os insucessos, a azia permanente logo afastam esta modalidade. Pode-se apenas reduzir o estômago (de 150 ml para 20-30 ml) por cirurgia laparoscópica.

As cirurgias mais eficientes, quanto à perda de peso, são as que reduzem o estômago e, ao mesmo tempo encurtam o intestino, levando uma alça intestinal à pequena cavidade gástrica. É a cirurgia chamada Capella. Neste tipo de ato cirúrgico, além do obeso comer muito menos (a cavidade gástrica é muito pequena), parte do alimento ingerido não é absorvido, pois com intestino menor, os nutrientes são excretados apenas parcialmente digeridos.

Com este tipo de cirurgia pode-se deixar de absorver elementos importantes como Ferro, Magnésio, Cálcio, Vitamina B12, Ácido Fólico entre outros. Mas o problema maior é que a cirurgia bariátrica leva a estado de deficiência calórica, isto é, o que se come é muito menos do que se gasta. Segue-se perda expressiva de peso. Mas o corpo queima tanto a gordura acumulada como o tecido nobre - protéina (o que é totalmente indesejável).

O tratamento com hormônio de crescimento

O hormônio de crescimento (GH) possui qualidades que podem ser utilizadas em obesos, em fase de perda ponderal. Primeiro porque o obeso grau III, frequentemente, apresenta menor secreção deste importante hormônio. Segundo porque o GH é hormônio de efeitos anabólicos conserva a massa muscular e promove a "queima de gordura".
Um grupo de pesquisadores decidiu estudar o efeito benéfico do GH após cirurgia bariátrica em 24 mulheres obesas. Após a cirurgia metade das pacientes (grupo A) recebeu 0,5 mg de GH em dias alternados, enquanto o restante (12 mulheres, grupo B) recebeu placedo. Notou-se que os que estavam sob ação de hormônio de crescimento apresentavam maior perda de gordura e menor perda de massa proteica (massa magra). Ambos os grupos A e B perderam o mesmo peso em 3 e 6 meses. Ao fim deste período o grupo A, tratado com GH, apresentava maior massa muscular e menor grau de tecido adiposo graças às qualidades anabólicas e lipolíticas do GH.

Esta modalidade de terapêutica com GH apenas está se iniciando, mas oferece perspectivas excelentes para o obeso que se propõe a fazer cirurgia bariátrica, levando a melhores condições de composição corporal, qualidade de vida e capacidade energética.

Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/nutricao-homo-obesus