quinta-feira, 9 de abril de 2009

Obesidade na criança e no adolescente

Há cerca de 15 anos nota-se que a prevalência do excesso de peso e obesidade entre crianças e jovens adolescentes vem aumentando de forma assustadora
tanto nos países industrializados como em países emergentes como a China, Rússia, Índia e Brasil, entre outros. Tomando como exemplo os Estados Unidos
observou-se que cerca de 11% dos escolares apresentavam excesso de peso em 1990. Em 2005 este valor passou a ser de 29%.

Curiosamente os países anglo-saxônicos (EUA, Reino Unido e Austrália) são os campões desta estatística de obesidade infanto-juvenil. A definição de
excesso de peso e obesidade é determinada em adultos pelo Índice de Massa Corporal (IMC) o qual é o número obtido da divisão do peso em quilos (kg)
pela altura, em metros, elevada ao quadrado. Todavia a criança e o adolescente crescem e a altura eleva-se a cada 6-12 meses, o que modifica o IMC sem
que haja, necessariamente, excesso de peso ou obesidade.

Para corrigir o fator crescimento estabeleceram-se tabelas com crianças e adolescentes de 2 a 20 anos indicando o IMC para cada idade (facilmente
obtidas no site www.cdc.gov/growthcharts/49). Quando a criança / adolescente está acima de determinado valor do IMC para sua idade dizemos que ela
está com excesso de peso. No caso de ultrapassar os 95% do IMC para sua idade é considerada obesa.

A obesidade tem várias causas

O ser humano possui um complexo mecanismo controlador da Fome e da Saciedade que é estabelecido tanto na vida intrauterina como na fase pós-natal.
Desde que haja aporte de suficiente de alimento na vida fetal este "termostato ou nutrostato" é perfeitamente regulado. Após ingerir comida suficiente
- em qualidade e em quantidade - cessa o estímulo (fome) para continuar a refeição, estimulando-se a saciedade.

Na hipótese da criança, em gestação, receber poucos nutrientes vindos da mãe, passa a regular o seu "nutrostato" para a posição de fome continuamente.
Terá alta probabilidade de ser obesa, na fase pós-nascimento, por ter fome constantemente. Na fase pós-natal o recém-nascido que foi amamentado por
seis meses ou mais tem muito pouca chance de ser obeso comparativamente àqueles que não foram amamentados com leite materno. Fatores genéticos são
importantes.

Muito recentemente verificou-se que boa parte das crianças obesas tem uma alteração em determinado gene (FTO = fator determinante de obesidade), que
leva à fome compulsiva e predileção por alimentos de elevado teor calórico. O meio ambiente, é óbvio, tem um papel muito importante para que o gene se
manifeste. Quando ambos os progenitores são gordos existe no ambiente doméstico uma valorização muito grande do fator "comida", quase sempre de
elevado teor calórico. Frequentemente a família utiliza-se de fast-food, comidas pré-preparadas, refrigerantes, pipocas, salgadinhos, batatas
fritas... Tudo isso acompanhado de horas de TV.

Lanches e salgadinhos na escola

Recente levantamento realizado na cidade de São Paulo mostrou que na maioria das escolas havia uma ampla gama de salgadinhos disponíveis para
escolares, todos ricos em gordura, altamente calóricos em embalagens atraentes. Mas pior ainda: as informações nutricionais das embalagens minimizam o
conteúdo de gordura e de calorias, bem como do sal. Quase todas as embalagens não estavam corretas e não faziam referência à gordura 'Trans",
altamente prejudicial ao nosso organismo e, possivelmente, pior ainda para as crianças.

Por outro lado quase todos os cinemas atraem crianças e adolescentes para o balcão onde saem enormes baldes de pipoca, imensos copos de refrigerantes,
barras de chocolates com nozes, avelãs, etc. Todos estas guloseimas empurram a criança/adolescente à obesidade.

O fator sedentarismo

Há cerca de 30 ou 40 anos, a imensa maioria da garotada corria atrás de balões, jogava bola na rua ou em terrenos baldios, andava de bicicleta,
empinava-se pipas, nadava nas piscinas, nos lagos, nos riachos. Hoje, após as aulas e os deveres escolares, a criança e o adolescente vão direto ao
computador (se tiver), ou à televisão. Os jogos eletrônicos atraem a garotada como mel atrai moscas. Os jogos acoplados à tela fazem com que o
adolescente fique horas e horas sentado, com o gasto energético mínimo.

Os aparelhos portáteis (game-boy, DS, PSP) levam o adolescente a deitar-se no sofá, onde, por horas a fio, afasta-se do mundo, hipnotizado pelo jogo
eletrônico. Existe uma correlação nítida entre ganho de peso e tempo dedicado à televisão/jogos eletrônicos. Quanto maior o número de horas na tela,
maior o ganho de peso.

Consequências da obesidade infanto-juvenil

A mais séria consequência ao excesso de peso na infância e adolescência é a progressiva incidência de obesidade na vida adulta. Estatísticas
demonstram que crianças e adolescentes obesos serão candidatos à obesidade na vida adulta em proporção superior a 50%, isto é, cerca de metade dos
obesos infanto-juvenis terão que lutar contra o excesso de peso durante a vida adulta.


Além disso, as crianças e adolescentes que ultrapassam a barreira de um Índice de Massa Corporal superior a 95% são considerados como candidatos às
mesmas comorbidades que os adultos - alterações nas articulações (principalmente joelho e coluna), pedras na vesícula, alterações nas gorduras do
sangue (colesterol elevado, HDL-colesterol (colesterol bom)) baixo e propensão para doenças coronarianas em idade relativamente jovem (30 - 40 anos).

O tratamento deve ter a cooperação da família

O princípio fundamental é a mudança do estilo de vida: dedicar menos horas ao lazer sedentário e, pelo menos, uma hora por dia ao exercício aeróbico.
Os gordinhos não gostam de Academia de um modo geral. A figura do pai é fundamental nesta parte do tratamento. O pai é que deve estimular o filho a
acompanhá-lo em caminhadas, em dar umas voltas de bicicleta, em nadar no clube. Para as meninas nada melhor que ouvir música no Ipod e dançar sozinha,
em seu quarto, ao balanço da música, fazendo sua coreografia, jogando braços e pernas ao ritmo da música, pensando em estar no palco, participando de
um show.

A dieta ainda considerada melhor é a supressão dos carboidratos de alto índice glicêmico (doces, sorvetes, chocolates, arroz branco, pão branco, etc).
Usar mais pão integral, arroz integral, legumes, verduras, saladas. Muita proteína (carne, peixe, frango, queijos, ovos) e NUNCA pular refeições.
Fugir dos salgadinhos e dos lanches da escola, da pipoca, dos refrigerantes.

Ter o apoio do médico (ou da nutricionista) constante e frequente. Alguns medicamentos podem ajudar a partir dos 12 anos de idade. A ansiedade por
comer pode ser controlada. Com todos da família ajudando e o médico orientando existe ampla possibilidade de êxito nesta terapêutica comunitária.

Fonte: Veja